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O SACRIFÍCIO DE ODIN, uma explicação mitológica para a origem das runas.

  • Wellington Zusman.
  • 22 de jan. de 2016
  • 7 min de leitura

As runas é uma das mais interessantes manifestações da cultura nórdica, pois é um sistema de escrita que não se restringe ao âmbito do registro da memória ou de suporte para mensagens, mas é uma modalidade profundamente interligada à mitologia, ao culto e, consequentemente, à expressão da fé germânica. A origem das runas está ligada ao deus da mitologia nórdica Odin ( Óðinn/ nórdico antigo).

Neste breve artigo vamos primeiramente conhecer o deus ao qual, mitologicamente, a origem das runas se liga.. Num segundo momento conheceremos, mesmo que abreviadamente, a história mitológica da criação das runas. Por último esboçaremos a história das runas e sua utilidade no mundo da cultura nórdica.

1. O DEUS ODIN.

Odin é uma divindade escandinava, senhor das magias, deus da guerra, da sabedoria, das ciências,da poesia e das artes. É o maior Deus, governante de Asgard e figura central entre os deuses nórdicos, pois simbolizava a bravura. Por causa do seu gosto pelas batalhas (atividade muito presente e valorizada pela cultura nórdica) tornou-se o chefe do Panteão.

O deus escandinavo é representado como um ancião de longa e farta barba branca. Sobre sua cabeça há um chapéu que representa o céu e cobre-se com um manto que representa a atmosfera com a qual se veste.

Provavelmente a raiz linguística de seu nome remete a ideia de "espírito do mundo em que tudo flutua, e que desencadeia com a sua ação a vida universal". Este deus é a mais pura expressão do panteísmo presente na crença nórdica, pois Odin é um deus total, é onipresente. De acordo com a mitologia, ele está presente em tudo, inundando tudo com seu espírito. É governador de tudo que existe, inclusive dos outros deuses que devem lhe obedecer.

Este deus retira o mundo do caos reorganizando-o e cria Ask e Embla, o primeiro homem e a primeira mulher que possuem a mesma alma do seu deus criador. Elaborando uma analogia com a religião dos hebreus (que posteriormente influência outras três religiões;Judaica, Cristã e Muçulmana), de acordo com esta descrição, Odin assemelha-se a Javé , deus hebraico que criou o mundo que antes era sem forma e vazio (caos), criou os seres viventes e Adão e Eva, o primeiro homem e a primeira mulher.

A mitologia nos diz que Odin protege os heróis, ensinando-lhes a arte das armas, a sabedoria e a prudência, acompanhando-os em suas batalhas e protegendo-os de seus inimigos. Quando tais heróis envelhecem Odin os agracia com a paz de não morrerem em repouso em suas camas, mas sim lutando em campo de batalha. No salão de sua realeza o deus reunia todos os vencidos em batalhas.

Entre outras características atribui-se a Odin a proteção e a organização da sociedade. Era um deus que vingava o assassinato, velava pelo cumprimento dos acordos, juramentos e pactos, afugentava o ódio, os maus pensamentos e o tédio.

A figura de Odin, assim como toda a mitologia, está cercada de simbolismos. Ele era auxiliado por dois corvos que o informava sobre tudo o que acontecia ou que já havia acontecido, pois eram os vigilantes do Mundo. Estes corvos chamavam-se Hugin, que representa o pensamento e a reflexão, e Munin, que representa a memória. O anel de Odin simbolizava a benção da terra e sua fecundidade, além de representar a fecundidade do espírito. Sua lança representa força e vigor, e seu cavalo Sleipnir representa os ventos cardinais.

O deus vivia no Palácio de Valaskjálf, construído em Asgard para que do seu trono pudesse observar os Nove Mundos. Entre os filhos de Odin pode-se destacar Thor e as Valquírias. Estas últimas eras encarregadas de recolher os guerreiros mortos em batalha.


2. O SACRIFÍCIO DE ODIN E AS RUNAS.


Mitologicamente o surgimento das Runas seria atribuída ao deus Odin. Ele era um xamã, e como muitos xamãs, de acordo com o mito, Odin submeteu-se à uma experiência de "retorno da morte" para alcançar o "iluminação".

Num dos trechos do poema épico Hámalá (traduzido como "As palavras do Altíssimo") encontra-se uma descrição de um ritual xamânico de alto-sacrifício elaborado por Odin na Yggdrasil (a árvores eixo do mundo e que sustenta os nove mundos). Como consta no Hámalá, durante nove dias e nove noites, sem água e sem comida, Odin enforcou-se/ou dependurou-se/ na Yggdrasil, ferido pela própria lança, até conseguir ingressar numa dimensão além do "Mundo dos Mortos" e retornar. Ao ser ressuscitado por magia, voltando como vencedor da maior de suas provações, trouxe consigo o conhecimento necessário para confeccionar e manipular as runas. Desta forma a criação mítica das Runas está ligada ao sacrifício de Odin. Por isso os herdeiros da tradição ligada ao deus (e ao legado de Odin) associa as runas aos processos oraculares, as práticas talismânicas e a manipulação das forças naturais e sobrenaturais para determinados propósitos.

Além deste sacrifício em que Odin adquire o conhecimento para a criação das Runas,o deus nórdico atirou um de seus olhos no poço de Mimir (o guardião da fonte da sabedoria que banhava uma das raízes da árvore Yggdrasil) em troca de um gole de sabedoria. Para evidenciar a crença no poder mítico das runas, inúmeras descobertas arqueológicas encontraram estes caracteres entalhadas em armas, batentes de portas, chifres utilizados como cálices e outros objetos ritualísticos. Tudo isso reforça a relação que as runas possuíam com a manifestação da fé que os povos setentrionais da europa depositavam nestes símbolos, que para eles lhes ofereciam proteção.

3. AS RUNAS.


Fora as explicações mitológicas, as runas são caracteres geralmente entalhados em pedaços de madeira, em pedras (as Runestones), pergaminhos, assim como em outros objetos. Constitui-se num sistema de escrita antiga usado em línguas germânicas. Podemos deste modo considerá-la uma forma de escrita do Norte da Europa. As inscrições mais antigas datam do ano de 150.

A palavra Runa possui significados que aproximam-se do sentido de segredo, mistério, sabedoria secreta, sussurro, entre outros significados similares.

Contrariando o que alguns especialistas tradicionalmente afirmam, alguns povos germânicos e escandinavos não eram iletrados, pois dispunham de um sistema de escrita simples com um alfabeto próprio no qual cada letra chama-se runa (por isso alfabeto Rúnico).

Muitas destas visões, que afirmam que a cultura nórdica era iletrada, pode cair no risco de enviesar-se por uma interpretação etnocêntrico, que vangloria a cultura greco-latina e menospreza as chamadas culturas "bárbaras" (ou seja, as culturas estrangeiras).


Primeiramente as Runas não foram utilizadas para fins de comunicação diária. Eram especificamente empregadas em contextos religiosos, com mensagens curtas direcionadas aos círculos dos chamados "Mestres das Runas". No entanto, com o passar do tempo foi-se ampliando o campo de utilidade das runas. Sem dúvidas foram utilizadas como método prático para memorizar e registrar ao futuro determinadas informações ou para enviar mensagens. Deste modo, assim como hoje fazemos com as nossas agendas e com nossos livretos de anotações ou cadernos escolares, as runas serviam para os povos do norte europeu como uma extensão de suas memórias mais relevantes.

No entanto é preciso fazer uma ressalva. Pois , em sua época, este e sistema de escrita não chegou a ser utilizada como uma escrita desenhada (como se faz ao usar as nossas canetas atuais), tendo sido reconhecidas apenas como caracteres/símbolos talhados em madeira, osso, pedra, metal, dentre outros materiais.

Uma outra característica que diferencia as runas de nosso sistema de escrita é o fato dela não possuir uma regra gramatical, o que possibilitou o surgimento de diferentes interpretações e padrões, erros de gravação e por aí vai. Assim, há uma máxima muito interessante usada para explicar esta falta de padronização das runas, e que diz o seguinte: "para cada inscrição haverá tantas interpretações quanto runólogos estudando-a".


Algumas teorias afirmam que o alfabeto tenha surgido em torno do nascimento de Cristo após o contato dos povos germânicos com a cultura dos povos letrados do Sul, especificamente com o alfabeto latino, grego ou etrusco.

Do ponto de vista histórico ainda é muito discutida a origem das Runas. Mas há quatro linhas interpretativas que são :

1. Teoria Latina ou Romana (1874). -- Afirma que o surgimento da Runas está relacionado ao contato dos povos norte-europeus com a cultura latina.

2. Teoria Grega (1899). -- Evidentemente afirma que o surgimento das Runas liga-se ao contato com o povo grego.

3. Teoria Etrusca ou norte-itálica (1928). -- Defende a tese de que o surgimento das Runas estão vinculadas ao contato dos nórdicos com os Etruscos.

4. Teoria Indígena (1896). -- Está é a única teoria a defender uma origem puramente germânica para o surgimento das Runas.

As Runas consideradas mais antigas são as Proto-escandinavas, que na maioria das vezes consistia apenas de uma palavra que pode ter servido para fins protetivos e mágicos.

É na era dos Vikings que pode-se encontrar uma quantidade maior de inscrições rúnicas (especialmente no século XI). A maioria eram textos comemorativos, com padrões que facilitam sua interpretação.

Entre os alfabetos em que suas origens associa-se à um contexto mágico/mitológico as Ruas são citadas por inúmeros especialistas como o mais desenvolvido e característico, principalmente pelo fato dos atributos mágicos e mitológicos prevalecerem sobre a função linguística propriamente dita do sistema (hoje em desuso).

A utilização das Runas, tanto para registro quanto para propósitos mágicos, requeria um conhecimento especializado, visto que apenas uma minoria dominava as técnicas de entalhe e possuia o conhecimento dos significados de cada carácter. Deste modo, o Mestre das Runas e o entalhador eram membros altamente requisitados e considerados pela sociedade (as suas funções davam-lhes posição de destaque).

4.RUNAS TENDAS.

As Runas também foram utilizadas para o envio e registro de mensagens secretas. As "Runas cifradas" ou "Runas crípticas" foram vastamente usadas para registrar mensagens secretas, cuja arte de decifrar era reservada apenas àquele que possuísse a "chave" para a decifração. Ou seja, aquele que conhecia as alterações realizadas nas Runas que acabavam por mudar seus significados.

As Runas crípticas mais comuns são as "Runas Tendas", que são compostas por um símbolo base em forma de X, onde pequenos traços são marcados.

Como não havia uma regra gramatical rúnica, ou um manual, e considerando o objetivo de ocultar o significado transmitido pelas Runas, muitos destes símbolos sofreram variações, dependendo do padrão combinado entre os indivíduos conhecedores da "chave" de decifração (das alterações ou padrões a serem seguidos na hora de confeccioná-las e de traduzi-las).

5. AS RUNAS E O SINCRETISMO.


Ao registrar, no contato com o cristianismo (século X e XI), a mistura de personagens cristãos com deuses cultuados pelos povos norte-europeus e prováveis espíritos da terra, as Runas evidenciam um fenômeno de sincretismo religioso, muito característico do cristianismo que se desenvolverá nesta região.

Mensagens cristãs foram transliteradas para o sistema rúnico (como invocação de santos e orações). Algumas foram utilizadas como amuletos.

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Como podemos ver, as Runas foi uma expressão cultural nórdica bastante complexa e que evidencia o quanto a cultura dos povos norte-europeus é rica. Assim como a mitologia greco-romana, hebraica, as mitologias dos povos Africanos, Nativos-americanos (norte e sul), a mitologia nórdica também tem o seu quinhão de originalidade em uma rica expressão cultural

É importante notar como as Runas estão inteiramente ligadas ao pensamento místico, às práticas mágicas e , podemos assim dizer, a manifestação de fé deste povo.


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