1929- A GRANDE DEPRESSÃO e A CRISE DO CAPITALISMO.
- Wellington Zusman. ( categoria: texto didático).
- 19 de set. de 2015
- 11 min de leitura

1. Os Estados Unidos no fim da I Guerra Mundial.
Após o término da Primeira Grande Guerra (1918) os Estados Unidos da América haviam se tornado o país mais rico do Planeta Terra. Fábricas de automóveis, comida enlatada, máquinas, petróleo, carvão, tornaram-se os maiores produtores de aço e por aí vai. A indústria norte-americana estava bombando no final do conflito que grassou a Europa e outras regiões do globo. Mas que teve seu epicentro no continente Europeu.
A Primeira Guerra Mundial havia se iniciado em 1914, usando-se de pretexto o assassinato do arquiduque, herdeiro do trono da Áustria-Hungria, Francisco Ferdinando (ou como os jornais brasileiros preferiam grafar na época do ocorrido; "Francisco Fernando").
A entrada dos Estados Unidos na guerra, em abril de 1917, foi de uma importância decisiva. Enquanto os norte-americanos cruzavam o Atlântico-Norte para lutarem ao lado da Tríplice-Entente contra a Tríplice-Aliança, os russos saiam da guerra para se dedicar a Revolução, inspirada pelas ideias marxistas, que estava dando seus primeiros passos no território russo, especificamente em Petrogrado.
Ao entrarem na Guerra os americanos possibilitaram um outro rumo para o conflito. Mas não pense meu caro amigo leitor, que os EUA enviaram tropas para o outro lado do Atlântico apenas por pura bondade.Nada disso! .
Sim, os EUA, os maiores fornecedores de suprimentos da França e Inglaterra, declaram guerra à Alemanha em abril de 1917. Mas o motivo que levou aos EUA a se manifestarem contra as ações da Tríplice-Aliança foi o fato da guerra ameaçar paralisar suas exportações através dos ataques submarinos. Mas não só isso meu caro leitor, observe bem, havia ainda uma intenção germânica de se aliar ao México. Com isso este último obteria ajuda militar para reconquistar territórios perdidos para os norte-americanos.
E aí?!!!
Qual foi a decisão dos norte-americanos?
Devido a exposição aos problemas e perigos que se apresentavam os norte-americanos incluem-se nas fileiras da Entente.
Em julho de 1918, tropas francesas, inglesas e norte-americanas realizam uma investida decisiva que acaba por obrigar a Áustria-Hungria, a Bulgária e a Turquia capitularem . Para a Alemanha a guerra terminaria meses depois, com a abdicação do kaiser alemão e a rendição incondicional.
A importância da participação direta dos EUA no conflito é dada pelo fato de que a Rússia estava saindo da Guerra, ao assinar o tratado de Brest-Litovsk com a Alemanha em 1918. A retirada das tropas russas da frente-oriental(leste) possibilitou a Alemanha manobrar e concentrar seus efetivos militares na frente ocidental (oeste), já que não havia mais o perigo de serem atacadas vindos do leste, pois as relações com os russos, podemos assim dizer, estavam pacificadas. No entanto, o desembarque de mais de 1 milhão de norte-americanos em solo europeu foi decisivo para a vitória da Tríplice Entente. Pois com isso a frente os ataques da Entente na frente ocidental puderam ser reforçados.
A Alemanha, depois de derrotada, enfrenta um turbilhão de problemas em suas relações sociais, políticas e econômicas internas. Os partidos social-democratas abraçaram a insatisfação pública e proletária do país. Com isso, o kaiser foi obrigado a abdicar e a República de Weimar foi instituída, rendendo-se ao aliados (Tríplice Entente) em 11 de Novembro de 1918. Dá-se ai o final deste conflito que será acertado com assinaturas dos acordos de pós-guerra. No final da guerra Impérios haviam sido desmembrados e novos países surgiam.
Um mapa do continente europeu fabricado em 1914 já não servia mais para nortear-se pela Europa. Vários acordo de paz foram assinados separadamente, depois da guerra, pelos países derrotados. O Mapa político da Europa sofreu profundas mudanças. A Alemanha, rendida no final dos conflitos, teve que aceitar os termos de um acordo (o Tratado de Versalhes) que lhes impôs severas obrigações.
Mesmo depois da assinatura dos acordos de pós-guerra não foi amenizada a crise econômica que havia tomado forças desde os fins do século XIX . As pesadas obrigações do Tratado de Versalhes não puderam ser cumpridas, na integra, pela Alemanha. Na verdade, as obrigações instituídas pelos acordos de pós-guerra serviram em muito para alimentar um sentimento de insatisfação lacerante da parte dos alemães que se veriam na miséria na década que se seguiria.
Então, as coisas acabaram prosseguindo da seguinte maneira; Os EUA, como credor, haviam emprestado grande soma de dinheiro à França e à Inglaterra, para que essas pudessem custear a guerra e as despesas com as desastrosas consequências geradas pelos conflitos. Inglaterra e França, agora com uma dívida imensa com os EUA, por sua vez, pressionavam a Alemanha para que ela pagasse as obrigações que lhe foram impostas. Está aí um dos ciclos gerados pelo Tratado de Versalhes. Um que deve o outro , e que deve o outro e que é pressionado, e que fica extremamente insatisfeito chafurdado na miséria.
No Início do século XX, o espaço geográfico mundial foi profundamente modificado pelos conflitos. Nos países europeus, as plantações haviam sido arrasadas e houve forte retração da sua produção industrial. Por isso os europeus ficaram dependentes dos EUA para se abastecer e se organizar economicamente. Os EUA já mostravam-se como uma forte potência econômica. O país havia se tornado o grande credor da França, Rússia e Grã-Bretanha, para quem haviam fornecido armas, munições, alimentos e outros produtos básicos. E estes tornaram-se dependente devedores dos Estados Unidos da América.

soldados norte-americanos combatem com metralhadora de 37 mm durante a Ofensiva de Meuse-Argonne, uma das batalhas finais dos Aliados, na floresta de Argonne, na França
2. Os Estados Unidos Prosperam até que...
Enquanto os países da Europa se endividavam com as consequências da guerra, a economia norte-americana cresceria abundantemente durante os 10 anos que se seguiram ao término dos conflitos. Os empresários dos EUA ficaram entusiasmados com as possibilidades de lucros e riqueza trazidas pelos novos tempos. Uma grande euforia entre eles fez com que investissem cada vez mais seus capitais. O mundo passa a invejar o "American Way of Life" ("Modo de Vida Americano"), e a década de 20 passa a ser conhecida como "os loucos anos 20".
Durante estes 10 anos os EUA receberam grandes somas de dinheiro de seus credores e investiu esses capitais na indústria de bens de consumo e na pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias (claro que visando pô-las no mercado). Com isso o consumo aumentou. Não só aumentou como tornou-se um "estilo de vida americano".

Produção em série de veículos conversíveis. EUA, 1919.
Houve um período de prosperidade não balanceada no país. Enquanto os cinemas, teatros e clubes viviam cheios e as indústrias prosperavam com seus rádios, automóveis, com a indústria química e bens de consumo em geral: produtos agropecuários e os salários caíam. O norte dos Estados Unidos, que era mais industrializado, prosperavam mais do que o sul, agrário. Fazendeiros e camponeses sofriam com a queda da produção.
Durante a Primeira Guerra, o setor agrário dos EUA havia alcançado grande desenvolvimento, pois constantemente o país abastecia os países europeus envolvidos nos conflitos fornecendo-lhes alimentos. Mas agora...
Com os seus Noticiários, novelas e músicas, o rádio transformou-se no veículo de comunicação de massas do período. Este aparelho, que agora passava a fazer parte do cotidiano dos norte-americanos propiciando-lhes informação e laser acabou por difundir, também, um novo estilo de música; o Jazz. Por isso o período que vai de 1920 À 1930 é conhecido como a Era de Ouro do Rádio nos EUA. Os norte-americanos conseguiam distrair-se muio bem com as mazelas que a aparente prosperidade lhes dava.

The King & Carter Jazzing Orchestra
Quer escutar o Jazz da década de 20? Ficou curioso? Vou te passar um link para você viajar no tempo um pouquinho: Clique aqui X.
A vida urbana parecia apresentar uma nação próspera. A população, desejosa de manter o seu "American Way of Life" , causado pela aceleração na produção de automóveis, rádios , telefone e bens de consumo em geral, procuravam empréstimos e aplicavam suas economias em ações de várias empresas.
O resultado disso foi uma consequente expansão de créditos, inclusive no mercado de ações. Nos anos 20 as ações estavam valorizadas por causa da euforia econômica criada por estes novos tempos "sem limites" da economia americana.

Por causa da euforia econômica as ações norte-americanas estavam valorizadas. Porém, este Grande Boom, ou seja, este grande crescimento econômico era temporário e artificial. Logo a prosperidade aparente se esfumaçaria no ar como as baforadas de um suave cigarro Malboro de Phillip Morris. De 1929 à 30 os americanos, iludidos com seu confortável estilo de vida, compravam ações de diversas empresas.
No entanto, a dependência que a Inglaterra e França possuíam com os EUA estava acabando. Em meados de 1920 começaram a quitar suas dívidas e adotaram medidas econômicas protecionistas, evitando as importações e investindo na indústria nacional. Como consequência, os EUA enfrentam uma grave crise se superprodução no setor industrial, o número de desempregados aumentava em ritmo alarmante, houve brusca queda no consumo pondo o setor industrial em crise. O número crescente de desempregados acaba por concentrar as riquezas nas mãos de uma restrita camada da elite. Numa economia liberal, estas consequências tornaram-se desestabilizadoras do sistema. Estava dado o prelúdio da crise econômica baseada no consumismo desenfreado e no livre-mercado apoiado por uma política liberal.

Os EUA, que eram a principal economia do mundo, em fins da década de 1920 encontravam-se numa situação desastrosa. Uma média de 55% dos norte-americanos viviam abaixo dos padrões de subsistência humana. Os investimentos estavam estagnados o setor agropecuário encontrava-se entravado pelo grande endividamento do setor.
A especulação financeira, herança do período de ouro da eufórica economia consumista, chegou ao seu limite. As ações passaram a valer cada vez menos, quando não passavam a valer nada. Empresários aumentavam virtualmente o valor de suas ações e isso acabou gerando desconfiança nos investidores que, para se salvaguardarem, colocavam à venda seus títulos.
Até que, em 24 de outubro de 1929 (na famosa "Quinta-Feira Negra") começa a pior crise da história do capitalismo. Em Nova York a principal bolsa de valores do país, de Wall Street, quebrou levando cerca de 5 mil empresas e bancos à falência no mesmo instante. Foi o dia em que a Bolsa de Valores de Nova York sofreu a maior baixa da História.
Desespero total. Durante quase uma década americanos compravam e vendiam ações de diversas empresas, quando de repente o valor das ações começaram a cair até que mais ninguém queria comprar e os títulos passaram a ser meros papéis em branco (já não possuíam valor algum).

Com os valores das ações desabando os investidores passaram a temer cada vez mais aplicar seus capitais sem ter a certeza de que haveria o retorno dos lucros.
Quanto menor o investimento, menor era também o lucro dos empresários. E com suas capitações de recursos reduzidas passa a lhes faltar motivos e recursos para manter tantos funcionários, que começam a ser dispensados. Com isso o país passou a ter um aumento no número de desempregados.
Muitas empresas não sobrevieram a crise e faliram, levando com elas seus funcionários, que agora estavam renegados às sarjetas. Assim como muitos bancos, que emprestaram dinheiro, não recebendo de volta os empréstimos também iam à falência.
Milhões de pessoas perderam seus empregos, os preços das ações caíram vertiginosamente, o índice de suicídio tornou-se algo surpreendente e alarmante. Os EUA estava no olho do furação, no ápice de uma crise financeira.
Mas a catástrofe não para por aí. Essa crise não ficou restrita aos EUA. Ela tomou proporções globais. A economia do resto do mundo estava fortemente entrelaçada a economia norte-americana, e por isso outros países também foram afetados pela Grande Depressão (Principalmente os países latino-americanos).

A quebra da Bolsa de Valores trouxe medo, falência, desespero e desemprego. De uma hora para outra milionários descobriam ter ficado pobres, falidos e que não tinham mais nada. Por causa disso suicidavam-se. Houve um aumento no número de mendicantes, famintos e desabrigados.
Para termos uma ideia das repercussões do crack Bolsa de Valores de Nova York, logo após a brusca queda das ações as Bolsas de Valores de Londres, Berlim e Tóquio também quebraram. A crise afetou o mundo inteiro.
O ano de 1930 marca o agravamento da crise.
A crise também fez com que os EUA importasse menos dos outros países, e os países que exportavam para os norte-americanos ficavam com suas mercadorias encalhadas e automaticamente entravam em crise.
Em 1930, o governo do republicano Herbert Hoover, que mantinha uma política liberal , optou por uma política protecionista contra a concorrência internacional, elevando as tarifas alfandegárias. Outros países seguiram na mesma linha de raciocínio, optando por uma política protecionista. Os resultados foi uma reação em cadeia. As exportações norte-americanas caíram drasticamente, o comércio internacional se desacelerou gerando calotes das dívidas externas, o que contribuiu para o fortalecimento da recessão.
Nos EUA , estatisticamente, em 1930 o desemprego chegava a faixa de 9%; em 1931 16% e em 1993 25 %. Os anos da década de 30 ficaram conhecidas como o período da Grande Depressão.
3. Franklin Delano Roosevelt e o New Deal.
Franklin D. Roosevelt, após uma árdua campanha em favor das camadas mais pobres da população e da defesa da necessidade de uma intervenção imediata do Estado na economia do país, contrariando o pensamento liberal dominante nos EUA, é eleito presidente em 1933.
Roosevelt elabora um plano (New Deal - Novo Acordo), visando recuperar a economia do país.
O New Deal foi concebido inspirado nas ideias de redistribuição de lucros do economista inglês John Keynes (1883 - 1946). Com isso a política econômica norte-americana passou a apoiar-se na intervenção do Estado como regulador das leis de mercado seguindo a política dos 3 erres: Reparação, Recuperação e Reforma. As características destas medidas políticas eram opostas as da tradicional livre-concorrência estabelecida pelo liberalismo.
Com o New Deal o Estado passa a vigiar o mercado, disciplinando os empresários, corrigindo os investimentos arriscados e fiscalizando as especulações na bolça de valores. Outra iniciativa foi a criação de obras públicas .
Através do New Deal o governo de Roosevelt estabeleceu um amplo programa de investimentos em obras públicas, o que acabou fortalecendo principalmente a indústria da construção civil.
Empresas estatais foram construídas, assim como estradas, praças, canais de irrigação, escolas, aeroportos e habitações populares. Essas medidas acabaram estimulando as fábricas para que voltassem a produzir e vender suas mercadorias. O que assegurou também a criação de milhões de empregos, amenizando a situação do desemprego.
O plano decretou o fechamento temporário dos bancos e requisitou os estoques de ouro para sanear as finanças e regular o mercado. Roosevelt emitiu moedas, desvalorizou o dólar e elevou o preço dos produtos agrícolas, facilitando o pagamento das dívidas dos fazendeiros.
Para Acabar com a superprodução o Estado foi implacável, aplicando medidas radicais que não eram aceitas por todos. Comprava e queimava estoques de cereais ou pagavam ao agricultores para que estes não produzissem.
Além disso, o New Deal criou leis sociais que protegiam os trabalhadores e os desempregados, elaborando-se um sistema de previdência social. Crio-se seguro-desemprego, assistência aos inválidos, assegurou direitos trabalhistas como o salário mínimo, limitação da cargo-horária de trabalho e deu liberdade aos sindicatos.
O New Deal alcançou bons resultados para a economia norte-americana. No entanto, mesmo gerando empregos e elevando o ritmo do consumo em 50% em três anos, o plano não conseguiu tirar os EUA da crise.
Até a eclosão da Segunda Guerra Mundial, restavam ainda 9 milhões de desempregados.
Os efeitos da Grande Depressão só seriam superadas com o início da Segunda Guerra Mundial, quando o Estado toma de fato conta da economia, ajudando a ampliar as exportações. A II Guerra Mundial serviria como uma saída natural para a crise do sistema capitalista.
Este sistema previdenciário criado por Roosevelt ficou conhecido, a partir da década de 1940, como Welfare State, ou seja ," Estado de bem-estar social". Praticamente todos os países do mundo adotaram este modelo político-econômico, que só seria substituído a partir de 1970, com a ascensão do neoliberalismo .
A década de 1930 será vitimada pela chamada "Política de Agressão" com os regimes totalitários em ascensão em detrimento da decadência do prestígio e da credibilidade do regime capitalista. A "Política de Agressão" culminará em 1933, ano em que Alemanha nazista invade a Polônia iniciando a Segunda Guerra Mundial. Mas sobre a ascensão dos regimes totalitários, explorarei este assunto em outro artigo.
VEJA TAMBÉM:
http://jornalggn.com.br/blog/luisnassif/as-imagens-historicas-da-grande-depressao
http://guiadoestudante.abril.com.br/aventuras-historia/quebra-bolsa-1929-tragedia-wall-street-454593.shtml
http://guiadoestudante.abril.com.br/blogs/curiosidades-historicas/2015/11/05/relembre-a-grande-depressao-de-1929-com-fotos-exclusivas-da-epoca/
http://noticias.uol.com.br/album/2014/07/21/kit-de-soldado-da-primeira-guerra-pesava-ate-27-kg-veja-itens.htm#fotoNav=21
http://www.history.com/topics/us-presidents/franklin-d-roosevelt/pictures/franklin-d-roosevelt/president-roosevelt-and-his-first-cabinet
FONTES PRINCIPAIS.
http://www.infoescola.com/historia/crise-de-1929-grande-depressao/
FIGUEIREDO, Divalte Garcia. História. 1ª Edição; Editora Ática/São Paulo, 2009.
LUCCI, Elian Alabi et al. Geografia Geral e do Brasil, Ensino Médio. 2ª Edição; Editora Saraiva. São Paulo, 2006.
FERREIRA, João Paulo Mesquita Hidalgo. Nova História Integrada, Manual do Professor. 3ª Edição; Editora Companhia da Escola. Campinas- São Paula, 2013.
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